por Elton Rodrigues
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O homem, em sua escalada no progresso natural a que é submetido pela lei de evolução, alcançou uma tecnologia capaz de colocá-lo no espaço além da atmosfera do planeta e lançar sondas que têm enviado notícias de mundos distantes a milhões de quilômetros da Terra. Por outro lado, ainda está engatinhando no uso de suas próprias forças psíquicas, que lhe são quase que totalmente desconhecidas.
Léon Denis [1]
Introdução
Usualmente, o multifacetado movimento espírita brasileiro apresenta atividades mediúnicas, mesmo que divididas em reuniões familiares e centros espíritas. Em um país culturalmente rico e de grande extensão, é quase impossível imaginar a existência de grupos isolados da influência do sincretismo religioso. Portanto, muitos pesquisadores afirmam que, de fato, não existe um espiritismo, mas inúmeros espiritismos, com fontes fundamentais particulares e práticas diversas. No entanto, apesar da diversidade encontrada nesses agrupamentos é possível afirmar, sem grandes chances de erro, que todos os grupos, dos menores aos maiores, buscam realizar um excelente trabalho, visando atingir seus objetivos de forma eficiente. Nesse sentido, julgamos plausível a defesa sobre a necessidade de ampliarmos o conhecimento acerca das capacidades individuais, dos recursos capazes de promover os fenômenos mediúnicos e dos mecanismos envolvidos que possibilitam as interações entre as interfaces encarnado-encarnado e entre encarnado-desencarnado, pois, assim, resultados mais expressivos poderão ocorrer de forma mais regular.
No presente artigo introduziremos o conceito de Campo Psíquico a partir de fundamentos teóricos, passando por algumas hipóteses e arriscando solucionar duas questões, mesmo que de forma rápida.
O objetivo do presente artigo é promover um paralelo entre a ideia de campo da Física e campo psíquico, gerando, quem sabe, uma visão mais profunda acerca dos mecanismos envolvidos nos fenômenos mediúnicos, incentivando a criação de grupos de experimentação mediúnica e a partilha de estudos, aspirando o fortalecimento do conhecimento no que diz respeito às teses espíritas.
Por último, salientamos que este é um artigo introdutório e não acadêmico, mas que busca apresentar uma dissertação com rigor, principalmente com relação às fontes utilizadas e às possíveis extrapolações entre conceitos.
Questões Iniciais
Sobre a formação de médiuns, Allan Kardec [2] indica uma forma que pode contribuir no desenvolvimento das faculdades mediúnicas, dizendo:
Um outro meio que também pode contribuir muitíssimo para o desenvolvimento da faculdade, consiste em reunir um certo número de pessoas, todas animadas pelo mesmo desejo e pela comunhão de intenção; (...) É raro que entre estas, não haja algumas que deem, prontamente, sinais de mediunidade ou que até escrevam correntemente, em pouco tempo.
Compreende-se, facilmente, o que ocorre nesta circunstância. As pessoas, unidas por uma comunhão de intenção, formam um todo coletivo cujo poder e sensibilidade encontram-se acrescidos por uma espécie de influência magnética, que auxilia o desenvolvimento da faculdade. (...)
Ainda sobre desenvolvimento mediúnico, Kardec afirma [3] que
o poder que permite desenvolver nos outros a faculdade de escrever constitui uma variedade de médiuns a que denominamos médiuns formadores [4] . E o que talvez parecerá estranho é que esta faculdade existe em pessoas que não são, elas próprias, médiuns escreventes.
A partir dos recortes acima, algumas dúvidas poderão surgir, considerando as afirmações e conclusões de Kardec como verdadeiras, por exemplo:
Como que a presença de uma pessoa pode estimular a mediunidade alheia?
Por que o trabalho em grupo pode potencializar a mediunidade dos indivíduos?
Diante dos fatos apresentados é razoável imaginar que há algo em nós que gera, ou pode gerar, uma certa influência nas pessoas que estejam próximas de nós (e no próprio espaço), não precisando de contato. Para tentar responder essas questões, utilizarei de paralelos com a Física, partindo de conceitos simples.
Forças
Fundamentalmente, toda a formulação do Eletromagnetismo se baseia, direta ou indiretamente, na existência de uma propriedade da matéria conhecida como carga elétrica. Tal propriedade é responsável por inúmeros fenômenos físicos relevantes, desde a formação de átomos, passando pelas ligações químicas em nosso corpo até a formação de raios [6]. De fato, em nossa vida diária temos contato essencialmente com três forças: a gravitacional, a eletromagnética e a psíquica.
Enquanto forças gravitacionais nos mantêm unidos à Terra, e a Terra ao Sol, forças eletromagnéticas mantêm os nossos corpos íntegros, pois sem essas, átomos não existiriam, nem moléculas, nem vida. As forças psíquicas [7, 8] também são, aparentemente, responsáveis por inúmeros fenômenos, como a movimentação de objetos, fenômenos conhecidos como irradiação, curas (aplicação de passes, por exemplo), doenças psicossomáticas etc. Ou seja, há indicativos que as forças psíquicas podem agir sobre objetos inanimados, sobre encarnados e desencarnados.
Uma explicação completa de como as forças eletromagnética, gravitacional e psíquica agem sobre os corpos é algo que precisará ficar para um outro momento, não só pela limitação de espaço, mas por não fazer parte do escopo do presente artigo [9]. No entanto, podemos adiantar, de forma superficial, que a interação entre duas cargas elétricas (força elétrica) ocorre a partir da interação entre fótons; já a interação entre massas (força gravitacional) deve ocorrer da mesma forma, a partir dos grávitons. Porém, essas partículas ainda não foram detectadas. E no caso da força psíquica, será que a interação entre seres vivos ou entre ser vivo e objetos ocorre a partir de partículas? Será que o que conhecemos como fluido, a partir de Kardec, é uma “nuvem” dessas partículas?
Campos
Uma partícula carregada, com carga positiva ou negativa, distorce, ou cria uma “condição” [5] no espaço, de modo que quando colocamos uma outra partícula carregada, ela sente uma força. Nesse paralelo, não estamos interessados em discutir as características atrativas ou repulsivas dessas forças. O importante é ter em mente que uma partícula carregada irá gerar uma influência e, caso uma outra partícula (que podemos chamar de “partícula de prova”) esteja em determinado ponto, essa segunda partícula sentirá a influência como uma força. Ou seja, o campo será sentido como uma força. Além disso, não podemos ignorar o fato de que a própria partícula de prova pode gerar influência também. A essa influência podemos chamar de campo elétrico, visto que estamos falando de interações elétricas. Se estivéssemos tratando da influência devida à massa da partícula, chamaríamos essa influência de campo gravitacional, atribuindo um potencial gravitacional em cada ponto do espaço.
Campo Psíquico
Realizando comparações com a Física, é possível imaginar que o espírito (encarnado ou não) também pode gerar influência em si, no espaço e em outros seres. Essa influência pode ser caracterizada como força psíquica. E, aparentemente, há uma relação entre pensamento, vontade e força psíquica [10, 11]. Essa força psíquica será tão mais forte quanto maior for a vontade. Por outro lado, a vontade pode ser inconsciente [12] ou consciente. A vontade inconsciente é muito poderosa, é verdade, mas a vontade consciente pode tornar-se uma potência ainda maior, promovendo resultados impressionantes.
As características da influência do campo psíquico, ou seja, da força psíquica, dependerão, ao que tudo indica, da relação entre o emissor (pessoa criadora do campo) e o receptor (pessoa que sente a influência do campo). Talvez seja por isso que encontramos relatos sobre diferentes resultados a partir do tratamento com passes, considerando um determinado médium atendendo diferentes pessoas. Isso também pode explicar as diferentes percepções que podem existir a partir de uma determinada influência espiritual, pois essa percepção dependerá, também, do próprio estado mental do receptor.
Dito isso, como que a presença de uma pessoa pode estimular a mediunidade alheia?
A característica do campo mental do estimulador, interagindo com o campo psíquico de alguns médiuns, faz com que haja uma potencialização da mediunidade desse segundo. É provável que esse estímulo aconteça apenas com alguns médiuns, e não com todos. Ou, de forma mais acentuada com uns e de forma mais modesta com outros, visto que o resultado dependerá da combinação dos campos psíquicos. E essa combinação deve ser bem característica, bem singular, visto que o fenômeno, aparentemente, não é tão comum. Em outro momento faremos uma comparação com fenômenos físicos onde isso pode acontecer.
E por que o trabalho em grupo pode potencializar a mediunidade dos indivíduos?
Partindo da premissa que cada ser é um gerador de campo psíquico, um trabalho coletivo deve ser visualizado como um somatório desses campos. Cada indivíduo sentirá esse somatório de campos como um somatório de forças psíquicas. Quando esses campos partem de pessoas com os mesmos propósitos, quando partem de pessoas que estão focadas no trabalho, as forças serão somadas, gerando um foco potencializador. Por outro lado, se houver pensamentos e propósitos muito heterogêneos, os campos podem gerar forças que se anulem, ou, no mínimo, que diminuam a força psíquica resultante. Dessa forma, o trabalho não atingirá o ponto máximo de eficiência e resultados.
Conclusão
É importante ressaltar que partimos de algo bem simples, realizando aproximações, ou paralelos, que não possuem o objetivo de encerrar a questão, mas de estimular estudos dos próprios fundamentos, encontrados nas obras de Allan Kardec e de tantos outros pesquisadores que buscaram (e buscam) avançar com o conhecimento sobre a mediunidade.
Entendemos que somos geradores de campo psíquico, que influenciamos a nós e o meio externo. Além disso, quando se trata de trabalho em grupo, é de extrema importância que os participantes estejam com os mesmos propósitos e focados na tarefa. Nesse sentido, a prece inicial pode auxiliar para que haja uma reunião dos pensamentos.
Referências
[1] Mensagem psicografada, no dia 26.02.98, para o livro Transe e Mediunidade, de Palhano Jr., publicado pela editora Lachâtre.
[2] Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, Capítulo XXVII, item 207, 1ª edição, CELD, 2010, Rio de Janeiro
[3] Allan Kardec, Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Capítulo V, Médiuns Escreventes ou Psicógrafos, 8ª edição, O CLARIM, 2012, Matão
[4] Em outras traduções, “excitadores”.
[5] Feynman, Leighton, Sands, Lições de Física, Volume I, p. 2-4, Reimpressão 2009, BOOKMAN, 2009, São Paulo
[6] Moysés Nussenzveig, Curso de Física Básica 3, 2ª edição, 2015, São Paulo
[7] Camille Flammarion, As Forças Naturais Desconhecidas, 1ª edição, 2011, EDITORA CONHECIMENTO, Limeira
[8] William Crookes, Fatos Espíritas, 9ª edição, 1996, FEB, Rio de Janeiro
[9] Há um detalhe importante que vale ressaltar: o modo como uma força age sobre algo e o motivo da existência da referida força são perguntas distintas e bem diferentes.
[10] Ernesto Bozzano, Pensamento e Vontade, 11ª edição, 2010, FEB, Brasília
[11] Julian Ochorowicz, A Sugestão Mental, 1ª edição, 1982, IBRASA, São Paulo
[12] A vontade inconsciente é um conceito psicológico que se refere aos desejos, impulsos e motivações que estão além do nosso conhecimento consciente. Essas vontades são influenciadas por experiências passadas, traumas, crenças e outros fatores que moldam nossa personalidade e comportamento. Embora não tenhamos consciência dessas vontades, elas podem ter um impacto significativo em nossas escolhas e ações.
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