por Elton Rodrigues
“Há algo mais belo que as mais belas descobertas, é o conhecimento da maneira pelas quais são feitas”.
Leibniz
O movimento espírita brasileiro é um microcosmo da sociedade no qual está inserido. Virtudes e defeitos vistos na sociedade de forma genérica, são os mesmos encontrados, também de forma genérica, no movimento espírita brasileiro. Diante disso, mesmo havendo a necessidade de uma análise mais cuidadosa dos possíveis vieses que possam aparecer a partir dessa constatação, um ponto é indiscutível: a sociedade atual, assim como o movimento espírita, se encontra em um estágio onde o acesso à informação é fácil, rápido e abundante. Por outro lado, inúmeros novos desafios surgem quando se pensa na relação quantidade e qualidade da informação e na transformação do “imenso volume e intenso fluxo de informações em conhecimento” [1].
“A respeito do excesso de informação disponível na internet, Viera (1998), Dowbor (2000) e Demo (2000b) alertam-nos para o fato de as pessoas estarem absorvendo informações que, muitas vezes, têm credibilidade duvidosa. É importante destacar também a necessidade de se saber processar informação, mesmo porque ela, por si, não implica conhecimento, importa mais a capacidade reflexiva e crítica que o indivíduo é capaz de desenvolver ante o conteúdo que ela traz. Informação, sem uma mente que a analise, que a reflita, que a compreenda e que a use adequadamente, é inútil para o crescimento intelectivo do sujeito. A capacidade reflexiva do aluno é elemento essencial para o discernimento do conhecimento, já que é ela que o torna capaz de interpretar, comparar, ponderar e integrar as informações. Para Jorge (1998) e Falzetta (2000), o excesso de informação ameaça soterrar cada indivíduo, pois, se não há tempo nem disposição para saborear ideias ou refletir sobre suas implicações, fica-se apenas na superficialidade. A avalanche informacional dificulta, por exemplo, a aprendizagem do aluno, pois o acesso a muitos conteúdos associado à falta de tempo para processá-los ou para digeri-los pode deixar o discente na superficialidade do saber” [1].
Mesmo havendo uma repetição frequente da necessidade da análise crítica dos espíritas sobre o conteúdo espírita, mediúnico ou não, palestras, mensagens, análises sociais à luz do espiritismo e livros duvidosos são aceitos com pouca ou nenhuma criticidade. E, talvez, esteja ocorrendo um agravamento desse quadro nos últimos anos, principalmente no período da pandemia do novo coronavírus.
A história da ciência será utilizada visando o combate da superficialidade do saber, como diz CRUZ (2008). Utilizando métodos qualitativos, o objetivo de estudar espiritismo a partir da história da ciência é examinar o conteúdo de ciências da natureza contido nas obras de Allan Kardec, considerando o contexto histórico e visando um papel educativo desmistificador. E como Allan Kardec possui ponderações sobre ciência, filosofia e religião, sem falar das artes e das questões políticas, sua obra propicia um vasto laboratório para essa intenção.
Este projeto é indicado, principalmente, às pessoas que produzem conteúdo espírita, pois realizando uma certa aproximação, quem produz quer, em algum nível, compartilhar ou ensinar algo. E, segundo MARKO & PATACA (2019),
“(...) a História da Ciência (HC) na formação de professores, e em especial de pedagogos, propicia a elaboração de concepções de ciência e educação mais complexas e dinâmicas. Estas, por sua vez, favorecem a formação da identidade docente do professor e sua criticidade, tangenciando noções sobre a construção de conhecimentos e a ressignificação de dimensões do educar” [2].
Referências
[1] CRUZ, José Marcos de Oliveira. (2008). Processo de ensino-aprendizagem na sociedade da informação. Educação & Sociedade, 29(105), 1023-1042.
[2] MARKO, GABRIELA, & PATACADA, ERMELINDA MOUTINHO. (2019). Concepções de ciência e educação: contribuições da história da ciência para a formação de professores. Educação e Pesquisa, 45, e186743. Epub May 02, 2019
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